sexta-feira, 17 de maio de 2013

18 de Maio - Dia da Luta Antimanicomial!



Será o passado uma história distante? 
Diria que o presente prepara-se agora para um novo e cada vez melhor futuro. Entre uma coisa e outra, existem milhões de histórias para contar.
Felizmente, não nasci na época em que amarravam os utentes, identificados por "gatistas", em coletes de força com o objectivo de anular os seus comportamentos totalmente desajustados, desorganizados e extremamente violentos. É certo que, o desenvolvimento da medicina assim como o da indústria farmacêutica, estava em ponto morto. 
Sabemos também que, os loucos do manicómio realizavam a sua higiene pessoal juntos, com jactos de água uniforme e desprendida de qualquer adereço emocional. Sabe-se também que, o que vestiam não se diferenciava por cada um. Eram todos iguais: batiam com as cabeças, mordiam-se, gritavam e exactamente por estas razões, nunca lhes retiravam os braços cruzados perante o peito magro e esquelético.
Apesar de duro e cruel, este foi um percurso marcado por verdadeiras amarguras e pensamentos radicalistas.

O passado é mesmo já uma história distante, ainda que poderá e deverá sê-lo cada vez mais.
Hoje, não existem loucos, existem pessoas. 
Hoje, o manicómio foi substituído por unidades de apoio à pessoa com experiência em doença mental, de forma a possibilitar que todo e (qualquer um especificamente), possa construir o seu próprio projecto de vida. 
Se a Diabetes Mellitus, sendo uma doença metabólica caracterizada pelo aumento anormal de glicose no sangue, e acarretando inúmeros efeitos negativos nos pacientes que dela sofrem, não é olhada como algo de diferente, porque será então a Esquizofrenia, por exemplo?
Um diabético anda na rua e ninguém o discrimina. E a um esquizofrénico porque o fazem? 
Segundo o senso comum e algumas das respostas que fui encontrando, o estigma mantém-se pelo medo de uma possível alteração comportamental. Será? E se de repente os nossos olhos vissem com clareza cobras gigantes presas nos nosso pés? Eu por exemplo, saltava para cima de um mesa e gritava. E vocês?
Contudo, é sempre relevante perceber que, um policia tanto pode matar quanto um pescador, e nunca estaremos salvos de responder agressivamente a algo que algum dia nos posso proporcionar fúria.
Somos diferentes. Todos! E dessa forma, teremos todos respostas distintas, assim como objectivos e interesses. 

Enquanto Psicomotricista, tenho o maior prazer em trabalhar (com/para) pessoas com doença mental, sabendo de antemão que a Reabilitação não passará apenas por nós técnicos, mas pela comunidade e na aceitação da psiquiatria como mais uma especialidade do hospital. Afinal, é isso mesmo que é, uma especialidade, com as suas próprias especificidades, muitas vezes surpreendentemente positivas. 

Digam não ao estigma e à desvalorização do doente enquanto pessoa.
Afinal, eu não sou menos por ter uma dor de cabeça, assim como uma nota de 10€ que mesmo amarrotada tem sempre o mesmo valor.

Finalizo, agradecendo a todos as pessoas que contribuem para a sua integração numa rotina de padrão-normal considerável, principalmente às próprias pessoas com essa experiência pessoal directa.

M.C


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