terça-feira, 14 de agosto de 2012

Cada um pisa a calçada que quer.

Cada um pisa a calçada que quer e como quer. Eu decidi esperar que o homem trabalhador, de ruas amargas de sol quente construisse o caminho mesmo que muito lentamente, porque nada se faz tão bem feito quanto maior for o tempo para a realização. E esperei, e enquanto continuava à espera, ía colhendo couves dali, cenouras daqui e conversas com as vizinhas de acolá. E de tanto esperar, reparei que a colheita de coisas materialmente necessárias, assim como as coisas moralmente e pessoalmente não dispensáveis, tinha sido positiva, aliás muito positiva. Com toda essa recolha de "coisas" conseguir fazer: - Duas ou três panelas de sopa (que me sustentaram o estômago por 2 ou 3 dias); - Uma grande e preciosa salada embrulhada de tão deliciosos ingredientes; - Um batido de cenoura para nutrir todo o sangue que me corre feromente nas artérias, e ainda deu para guardar receitas de bolos (que ainda não feitos já sentia o seu cheiro). E feito o caminho, construída e fixada a calçada eu dei os primeiros passos e caí logo de seguida. E porque o batido de cenoura me tinha dado tamanha energia, levantei-me de novo e caí. Mais ou menos, esta situação aconteceu 4 vezes. À 5º (sabe-se lá porquê) já não caí, e como se de muita vontade se tratasse comecei a correr, assim tanto quanto pulava e cantava. Um dia, apercebi-me que era necessário conhecer outras receitas, e outros ingredientes e outros vizinhos e alterei o sentido, ou melhor dizendo, mudei para o lado direito da estrada. Apesar de tudo, pensei ter perdido as outras "coisas" que me fizeram crescer e andar. Mas não perdi, porque como em tudo na vida, nada mais sou do que a primeira sopa que fiz, com a pequena diferença de agora ser mais aperfeiçoada. Sei também que a origem é a base de todo o sustento humano, seja ela um caldo verde ou uma panóplia de acontecimentos felizes. E eu? Não, nunca irei pisar outras calçadas enquanto a minha ainda existir e enquanto ainda souber quem sou. M.C