domingo, 23 de novembro de 2008

Olhar para a vida...



Vem comigo...
Não tenhas medo de seguir os meus passos, ouvir as minhas palavras ou até mesmo de olhares para os meus olhos.
Já tentaste olhar verdadeiramente para os olhos de alguém?
Eu sei que não, mas experimenta uma vez...olha para os meus!
Mais do que um sem abrigo sou Homem.
Dou valor ao frio que se mantém na rua quando, debaixo dos meus jornais comprados por empresários bem sucedidos, tento encontar o calor...calor este que por tantos e bons anos tive o prazer de ter numa casa, que era minha, mas que me fugiu das mãos...
lembro-me de ter uma família, e que na noite de Natal se juntava para abrir os presentes...lembro-me sabes? mas agora não passa de uma mera recordação.
Por mais frio que faça na rua, por mais chuva que caia na minha cabeça, e por mais gelados que estejam os meus pés, não há nada mais cruel e sentido que o meu coração.
Não sei que fiz à vida...não sei o que a vida me fez a mim...
Ainda ontem passeava no lago onde agora me lavo todos os dias...ainda ontem ignorava o Homem a pedir esmola à entrada do antigo café da Praça do Comércio e, hoje aqui estou eu a ocupar o lugar dele...ainda ontem via o mar da minha janela e agora, por mais que procure não encontro nenhuma aberta.
Estas a olhar?
Vês a tristeza?
Eu sei que sim.Mas há uma coisa que tu nunca conseguirás ver...a minha dor!
A dor que se apodera de mim quando me apercebo que perdi tudo o que me fazia feliz...quando me apercebo que estou abandonado no mundo e que não existe ninguém que me consegue levantar...a dor que tenho quando passo na rua e as pessoas me olham como um ser diferente, imundo e pequeno.
Acredita, que imundo é o coração de pessoas más, que te magoam e derrubam.
Pequeno é o mundo de gente que não compreende mais do que aquilo que quer compreender...
Apesar de tudo, no meu mundo fico e no meu mundo ficarei até o tempo desgastar os meus sentimentos e toda a minha razao de viver...pois tudo isso se desgasta quando não é regado e colhido...
Olha de novo bem no fundo dos meus olhos...olha e ve que as raízes em mim ainda perduram...
...e sei que perdurarão para sempre porque flor que não é regada não floresce...tal como a vida que não é alimentada não cresce.