sábado, 23 de junho de 2012

Olhar para a infância e ver quem sou.

São os lugares mais inesperados que trazem as maiores e mais escondidas lembranças. E dizem os senhores que sabem muito, é no convivio e nos momentos descontraídos que descobrimos os maiores pensamentos, as maiores certezas arriscando até a afirmar: a saudade de uma vida que foi nossa mas que nunca chegaremos a saber porque nos foi roubada. Pois bem, falo-vos da infância. Neste caso muito especifico, da minha infância. Não do que aprendi, não como cresci, nem sequer como desenhei as primeiras letras, ou até mesmo de como pronunciei as terceiras palavras, mas sim do que vivi. A escola, os TPC's, o lanche, a hora dos desenhos animados, as férias "grandes", o brincar à apanhada, o brincar às escondidas, o brincar ao "macaquinho do chinês", o cair de bicicleta, o fazer feridas no joelho e sobretudo, o adormecer diariamente sob o olhar das estrelas que tantas vezes eu tentava contar (mas sem sucesso). E no mesmo local inesperado, eu mergulhei ainda mais profundamente e, ao acaso das circunstâncias imaginei-me num jardim com pessoas. Nesse capitulo do livro eu estaria a rir, e a rir, e a rir. Nunca fiz senão rir e sorrir, porque o meu coração ainda estava em crescimento, em desenvolvimento de defesas e armas para esta tão dificil vida que nunca está para nós quando mais estamos para ela. Por isso, é já que assim ela quer, é hora de fazer a vontade: não me apetece mais pensar em ti, oh minha vida! Não hoje! Porque hoje eu vou pensar nos caminhos que trilhei, nas brincadeiras que tive com aqueles amigos de infância que ainda hoje se encontram no mesmo lugar, na forma como tudo mudou. Na dificuldade de compreensão sob o fato de ter estado lá, no meu grande e maravilhoso mundo e agora me encontrar aqui, neste lugar inesperado em que as pessoas se lembram de saudades de outros lugares, de saudades de onde nós somos. Aqui, neste lugar invulgar eu descobri que a cidade grande é pequena em afetos e emoções, os carros passam a uma velocidade relâmpago incapazes de parar a um grito de ajuda. Na aldeia, e como o burro não anda rápido eu posso falar baixinho que a carroça pára, a qualquer instante para matar a saudade de quem somos, do que somos e de onde somos, pois a maior riqueza é saber de que lenha somos feitos e de que campo fomos cultivados. Quando isso acontecer, tenho a sincera certeza que o caminho percorrido será mais leve mesmo que com penas pesadas e será mais iluminado, mesmo que com um sol menos brilhante. E mesmo assim, irão existir sempre lugares inesperados para nos lembrarmos das nossas lembranças, seja na Ponte Vasco da Gama como foi o caso de hoje, seja num outro lado do planeta, como poderá ser um dia. Até lá, o caminho faz-se caminhando e de preferância com um sol bem grande e com capacidade para nos abraçar. M.C

Sem comentários: