quarta-feira, 30 de abril de 2014
Saudade.
Já faz cinco meses que não escrevia, tanto tempo, tantas horas e tantos contratempos!
Já sentia saudade. Aliás foi por me lembrar precisamente desse aspeto que surgiu a ideia maravilhosa (pelo menos para a minha pessoa) de voltar a tocar as palavras, ou esperar que elas me venerem, seja lá da forma que se entender.
Foi a saudade sim! E eu que tenho sempre tantas saudades de tudo, tinha de me ter esquecido das coisas que me alegram durante este curto espaço. Mas esqueci. E esqueci porque as razões que me levaram a tal não seriam para menos do que foi.
Ainda aqui devias estar avó. Era muito cedo, nem sequer querias ir embora e foste tão rápido. Lembras-te quando estavas deitada na cama, indefesa e com a tua alma tão em sobressalto me disseste que querias que te levasse até ao quintal? Depois sentavas-te na cadeira e apanhavas um solinho. E ficavas tão feliz quando te dizia que Lisboa era o meu novo campo de batalha.
E isto, e aquilo e o outro mundo! Mas já não estás e eu penso tanto em ti...Sabes avó, está a chegar a altura das nespras! E o que tu sabias que eu adorava! As nossas tardes passadas a descascar nespras e a comer torradas! Foi tudo tão bom e tudo tão demasiado cronometrado!
Apesar de tudo isto já sei que estás a descansar e a olhar por mim, para mim, por nós e para nós.
E olha que às vezes preciso bastante! As forças recaem sobre mim mas, são tão mais lentas que a minha alegria de viver que aumento logo toda a minha sensação, às vezes baça, de abraçar este mundo e o outro! O que eu gosto disto de aqui estar!
E logo eu, que teimosa, não queria nascer e nasci.
E logo eu que não queria ter estas saudades e tenho.
E logo eu que queria ser sempre forte como o ferro e não sou.
Mas afinal, foi logo a mim que me foi dado um caminho com curvas e contracurvas com pouca visibilidade e eu ainda assim, as consigo superar e ultrapassar.
A saudade fez isto. Recordar o que foi bom para me lembrar de ti, querida avó. Quem sabe, e porque nada acontece por acaso, para me dar a força necessária para continuar no tal campo de batalha, onde imperam todas as minhas convicções e ideais e, quiçá, toda a minha tão rebelde teimosia.
Que a minha sede de viver nunca se esgote, e que o meu coração nunca se esqueça de que matéria prima é feito.
"Somos tanto mais quanto melhor formos para o mundo"
Amar-te-ei para sempre Avó!
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